Sugiro antes a leitura do texto do Erequitu sobre o sistema da ToC da WSJ, que teve sua primeira parte publicada semana passada. Aquela temática tem conexão com este post.
Dias turbulentos quando falamos em Weekly Shonen Jump e ToC e suas polêmicas posições. One Piece se mantém sólido porque é One Piece, mas os arcos recentes não empolgam em nada; Naruto só desaba; Bleach já desabou; Toriko ameaça se infiltrar no famoso Big 3 dos battle shonen; Reborn!, bom, Reborn terminou sendo Reborn. Em meio a tudo isso um Polvo Assassino e Professor chuta a bunda de todo mundo e começa a liderar cheio de alegria as ToCs e colocar em inveja em muito marmanjo com suas vendas iniciais. Estamos falando do excêntrico Ansatsu Kyoushitsu (AK), mangá de Yuusei Matsui e que vem causando uma confusão e tanta, por aparentar ser o carro-chefe de um grupo de novos mangás (alguns nem tão novos assim) que ameaçam os estabilizados concorrentes. Diante disso tudo todo mundo se pergunta: crise? Acabou a era dos battle shonen? Teremos novos reis? Enfim, muita calma nessa hora, foram poucas semanas e tudo isso pode ir pro saco da noite pro dia. Mas é fato que o fenômeno AK é interessante e merece análise.
Bom, motivado pela euforia generalizada dos fãs eu fui ler os capítulos já publicados de AK e confesso que não entendi toda a badalação. Diferente, mas não criativo, nem agressivo, nem nada espetacular, apenas diferente. E isso me incomodava, porque eu realmente não conseguia compreender tanto oba oba. Mas ainda assim fiquei feliz, porque mesmo sem ter gostado acabei contente por ver um mangá não battle shonen causar tanto impacto logo de cara. Isso pode influenciar e motivar mais gente a se aventurar em estradas sem piratas, ninjas, mafiosos e cientistas com poderes sobrenaturais. Ou seja, AK pode preparar o terreno para a chegada de uma obra realmente nova e ao mesmo tempo de sucesso de massa. Eis que então surge o dilema: de um lado não achei AK grande coisa e de outro gostei de seu fenômeno. Mas o fenômeno provocado é consequência, logo só será válido se duradouro, se realmente persistir. De nada adianta provocar estardalhaço agora se daqui a dois meses despenca na ToC e passa a desmoronar feliz da vida rumo ao cancelamento. Enfim, é preciso tentar entender se AK realmente possui potencial para se manter ali. Ora, prever isso é impossível, ninguém faz futurologia, mas dar indicações dentro de certos limites é sim possível e importante. Onde achar estas indicações? Conhecendo o autor, sabendo do que ele gosta, como desenvolve os personagens, como cria as tramas, que ideias norteiam seu pensamento, etc. Como saber isso se o mangá em questão tem apenas 19 capítulos publicados? Recorrendo às obras anteriores do autor. Eis que então inicia a minha jornada por Majin Tantei Nougami Neuro, mangá serializado entre 2005 e 2009 na WSJ e por dois one-shots lançados em 2009 (Rikon Choutei) e 2011 (Tokyo Department Store Sensou Taikenki). Entre essas três obras e AK há muita coisa em comum, de modo que passo a discutir um pouco o estilo de Yuusei Matsui, abordando os quatro trabalhos ao mesmo tempo, mas dando destaque a Neuro, por ter 202 capítulos e a AK por ser o atual. Depois dessa análise retomo a questão ToC e concluo o texto.
Yuusei Matsui gosta de fazer personagens sobrenaturais tipicamente fodões e que vem ao nosso mundo para fazer três coisas (se divertir, ensinar coisas aos humanos e destruí-lo), e sempre acompanhado de um humano jovem e comum, que cumpre bem o papel de representar o leitor diante de um personagem sobrenatural (apenas em AK esse protagonista humano não está ainda claro, talvez seja Nagisa, talvez sejam as crianças em geral). Nem todos cumprem os três requisitos, mas sempre ao menos dois deles. Temos o demônio Neuro que tendo resolvido todos os mistérios do seu mundo vem para o lado dos pobres mortais resolver os mistérios daqui, e para isso pega uma garotinha em crise porque recém perdera o pai (vítima de assassinato), transforma-a em detetive e juntos passam a resolver vários casos de homicídio. Temos Koro-sensei, o bizarro polvo que destruiu parte da Lua e prometeu destruir a Terra a menos que ele seja assassinado antes, e para isso passa a ser professor de uma sala de alunos trombadinhas e atrasados,a fim justamente de treinar os moleques para matá-lo (?!). Temos spoiler (ops, aqui um ser sobrenatural, fodão, diga-se de passagem) brasileiro metido a cowboy reparando injustiças em um Japão que parece o Texas (é o primeiro one-shot, vão ler). E temos um sujeito bizarro que mantém uma loja que pode vender tudo o que você quiser, porque vende desejos em troca de sua vida (o segundo one-shot). Deixemos os one-shots de lado, por mim basta dizer que o segundo pouco traz de novidade e o primeiro revela um senso mais solidário e de amor ao próximo de nosso querido autor, e que por ser em 2009, é coerente com o estranho arco final de Neuro. Foquemos nas outras duas obras.
Cara, eu gosto do Matsui. O cara é bizarro, tem horas que não penso que é só excêntrico, é bizarro mesmo, porque ele realmente sente atração por temas como mente criminosa, origem do mal, etc. E o legal é que essa doideira do sujeito passa pra obra, e não podemos negar que ele faz questão de deixar sua marca pessoal naquilo que escreve. Matsui não é (espero) um genérico que está aí só pra imitar macaco e ganhar dinheiro e a impressão que passa é que ele realmente se diverte em fazer suas bizarrices. Na abertura do primeiro volume de Neuro ele já diz que se divertiu bastante e que espera que o leitor se divirta. Bom, eu me diverti muito com Neuro, e venho me divertindo com AK (ah o Koro-sensei é engraçado pra caramba, admita aí, mesmo que o mangá não seja lá aquelas coisas por enquanto). Mas ele é legal não apenas por ser bizarro. Bizarros têm em cada esquina, e a maioria deles são repetitivos e chatos. Matsui é um bizarro que tem algo a dizer.
Por exemplo, retomando o que falei acima. Neuro quer satisfazer seu desejo pessoal, que é caçar mistérios e resolvê-los, isso o alimenta (mesmo). Koro-sensei se diverte toda hora, seja ensinando, seja se esquivando de mísseis, seja limpando aviões de guerra enquanto estes tentam matá-lo, etc. O cara é a alegria encarnada e aquela cara de bobo alegre, retardado e fodão é perfeita para ele (aliás, a capa do primeiro volume é genial). Neuro, ao resolver mistérios, ajuda a detetive Yako e a polícia a colocar muitos criminosos na cadeia, portanto ajuda as pessoas. Koro-sensei ensina alunos, e dá lições de valor ainda, diga-se de passagem, portanto também ajuda as pessoas. Neuro ensina sua detetive, forma-a, é praticamente um mestre, ainda que a trate como escrava. Koro-sensei é realmente um professor. Até aqui eles são idênticos. Agora há duas coisas que os diferenciam (ao menos até aqui).
Primeiro, Neuro não quer destruir o mundo nem matar humanos. Aliás, ele nunca matou um humano. Por um lado faz isso porque seria estúpido matar humanos se são estes humanos que criam mistérios bizarros para ele resolver. Humano morto não cria mistério algum. Já Koro-sensei quer destruir o mundo.
Segundo, Neuro quer entender os humanos. O motivo dele não matá-los não é apenas o exposto acima, mas também que sua convivência com Yako faz entendê-lo que humanos têm valor, e não são apenas “comida” e “escravos”. É interessante notar que ele protege escravos, seja como propriedade, seja como utilidade (escravo morto não faz nada). Já Koro-sensei não demonstra querer entender os humanos (até agora). Entretanto, me arrisco a dizer que sim, e que isso uma hora virá à tona. A tendência é que ele vire mais professor que assassino, e professores não só ensinam, como aprendem. Matsui tenta lidar com protagonistas muito acima da média, mas que ao mesmo tempo precisam se desenvolver (não alcançaram o topo).
Ter protagonistas como os personagens mais poderosos é um teste interessante, porque aumenta o desafio do antagonista. Oras, se o seu protagonista é quase invencível (e tanto Neuro como Koro-sensei são) os antagonistas realmente precisam se superar demais para se tornarem testes consideráveis. Não subestimem Matsui, lidar com esses protagonistas é imensamente mais difícil do que brincar com glutões retardados, amigos, determinados e vencedores. Para esses aí basta criar um vilão com aparência de fodão e frases cool, aí lutam, o protagonista apanha, aí chegam amigos, despejam palavras de entusiasmo e esperança, e o protagonista digievolui com uma técnica tirada do bolso e vence milagrosamente o vilão cool (que certamente não é vilão, mas apenas um moleque gozado na infância, e que por não ser entendido passou a odiar o mundo e a querer dominá-lo, afinal, ninguém é vilão mesmo).
Nada disso. O teste para Neuro é sempre um humano que tenta ir além de suas capacidades, seja recorrendo a mutações genéticas, à inteligência artificial, a estratégias superiores, etc. Mesmo nos poucos capítulos de AK vemos o moleque violento que tenta vencer Koro-sensei com a tática do suicídio, que derrotaria sua alma de professor, e da espiã sexy que tem o sex-appeal como arma. Em Neuro esses aí são ainda melhores. Matsui desafia a si mesmo. Tanto em Neuro como em AK você sempre sabe que, por mais poderoso que seja o antagonista, ele é inferior ao protagonista, mas ainda assim você fica na tensão de que Neuro e Koro-sensei podem ser derrotados um dia. Um dia. Se o protagonista é poderoso demais, o antagonista precisa dar um jeito de equiparar-se, senão a trama fica previsível e sem emoção. E outra: protagonista fodão tem dilemas internos ainda maiores. O dilema de Neuro (entender os humanos) é bem maior e abordado de modo muito mais sério que a maioria dos shonen por aí.
Pois bem, falei ali de que vilões costumam ser bonzinhos traumatizados. Isso é focado demais em Neuro. E de modo interessante, diga-se de passagem. Neuro é um dos melhores mangás serializados na WSJ nos últimos anos. É muito mais agressivo e ousado que a maioria de seus concorrentes. Em Neuro temos inúmeros puzzles (reminiscência do estrondo chamado Death Note, que estreiou um ano antes), casos de mistérios envolvendo assassinatos, em que Neuro e sua detetive Yako desvendam crimes. Mas calma, não é mangá de detetive, não é porque os casos são sempre resolvidos rapidamente, e com muitas pistas sendo reveladas apenas no momento emocionante em que Yako aponta o dedo para o criminoso e diz: “o culpado é você!”. Ah esses momentos são muito legais. Mas por que Neuro faz isso? Desse modo, é quase impossível o leitor descobrir quem é o criminoso. Oras, a intenção não é essa, a intenção é descobrir a motivação do criminoso (e descobrir motivações criminosas guardadas no fundo do coração humano deve ser mais emocionante e difícil que de com demônios). Neuro não devora o mistério em si, devora a intencionalidade criminosa do sujeito. É na energia psíquica negativa que Neuro é fascinado e necessitado para sobreviver (tanto espiritualmente, razão de existir e felicidade, como biologicamente, razão de sobrevivência). E mais interessante são os perfis dos criminosos, sem apelar a facilidades. Temos pais de família, popstars, pessoas “do bem”, etc. Muita gente que não costuma ser acusada de criminosa. E mais, se por um lado eles não são a maldade em si, os criminosos que matam por matar porque é cool ser do mal, por outro eles não são os moleques colocados na friendzone. São pessoas de carne e osso, que se sentem motivadas a matar, por alguma razão psicológica, mas sabem que matam, sabem seus erros, gostam de matar, e geralmente não se arrependem. Essas cenas de Neuro são excelentes. Não é spoiler isso, porque você nota já no primeiro capítulo. O arco do HAL e todos envolvendo o X são certamente os melhores e mais dramáticos naquilo que é a essência de Neuro.
Bom, deu pra ver que Neuro é muito mais agressivo e ousado que AK. Em Neuro há mortes, há vilões reais, há maldade, há sangue, personagens dramáticos e tensos, enquanto AK se limita à zona de conforto gag, que fala de destruição em tom brincalhão. Ok, é outra abordagem, mas menos ousada (claro, tudo isso pode mudar mais adiante, e deve mudar, porque o nível dos capítulos atuais não sustentará a liderança na ToC para sempre).
Bom, voltemos à ToC. Acho que deu para entender meu ponto acima. Matsui gosta de abordar temas ligados à maldade, crime e destruição, mas trabalha ao mesmo tempo em que aborda a questão do desenvolvimento humano, do ensino, da formação (e essa formação pode ser tanto pela bondade como pela maldade, ver arco do Sicks em Neuro, emblemática exposição da maldade como transcendência da humanidade). Em Neuro isso foi feito de modo mais dramático e tenso, com muitas mortes, vilões reais, etc. Em AK está sendo gag, diverte, mas não provoca nada internamente no leitor. E essa diferença, na minha opinião, torna as duas obras como céu e terra.
Mas AK pode melhorar, claro que pode. São só 19 capítulos oras. Pode até ficar melhor que Neuro. Sim, pode mesmo. Mas há algumas coisas que precisam ser evidenciadas. Primeiro, Neuro era obra de metade da ToC para baixo. Dificilmente alcançava posições de topo, e nunca foi top 10 dos mais vendidos da WSJ. AK é top 1 logo de cara na ToC. Se por um lado Neuro teve que algumas vezes mudar o estilo e se esforçar demais para compatibilizar o controle da Jump com sua vontade pessoal (o arco final é claro nesse contraste, e por isso para mim é o pior de todos, por mais que seja o mais longo e provavelmente o que as pessoas mais gostem). Este controle da Jump sobre as obras é normal, pois quer ver suas obras venderem mais (é uma empresa, não instituição filantrópica). Mas por outro lado o fato de Neuro não ter sido muito lido certamente deu mais liberdade em questão de censura. Uma obra de bottom da ToC se tem mortes só alguns leem. Uma obra de topo na ToC não pode ter muitas mortes, não passa nem pelo filtro de controle social, de massa, não é nem questão Jump. Uma obra que vende muito e para moleques de 11-14 anos não pode ter mortes demais porque a própria sociedade boicotaria. É sempre bom lembrar que toda obra infantil/juvenil precisa pensar tanto nos filhos como nos pais, porque se os pais não gostam, não compram ou não deixam o filho comprar. Por isso temo que AK não terá mortes e agressividade como Neuro teve. Por outro lado, certamente Matsui terá mais liberdade para trabalhar o seu plot sem recorrer a combates padrões, plot twists retardados, fanservices desnecessários, etc. Coisa que Neuro teve que apelar em alguns momentos, mas sem nunca perder de vista o foco. Neuro conseguiu sempre harmonizar a pressão externa sem abandonar seu real interesse e motivação. Em tempo, não entrei na discussão sobre maldade e crime em Neuro aqui, mas recomendo a leitura da obra, porque embora não traga uma perspectiva nova ou necessariamente inteligente, é feito de modo não tão convencional para os padrões de massa de hoje.
Em síntese. Matsui tem potencial sim. Tanto é que Neuro durou 202 capítulos, vendendo pouco, e com menos interferência externa que muitos outros mangás por aí, e que mesmo vendendo pouco o autor conseguiu retornar para a revista com nova obra. Ou seja, a Jump aposta em Matsui, acredita em seu potencial, e tem planos para ele, assim como deve ter para Nisio Isin, porque só isso justifica o prolongamento desnecessário de Medaka Box, mesmo vendendo quase nada. Pensem: é inteligente jogar fora o autor da série de light novels Monogatari, uma bandeira forte do público otaku atual, e alguém que claramente tem talento para criar uma série explosiva e de sucesso geral? Comercialmente falando o pessoal da Jump é muito competente. Acho (e é chute sim) que a confiança da Jump em Yuusei Matsui vai por esse caminho.
Ok, tem potencial, mas e a ToC? É o problema. Claro que ele terá mais liberdade para construir sem recorrer a clichês padrões a la plot twist tosco, deus ex machina, etc, mas terá menos liberdade para desenvolver com dramaticidade. E daqui surge o último decisivo ponto: por que AK é muito mais avacalhado, menos dramático e tenso que Neuro?
Levanto uma hipótese, tão somente uma hipótese: e se o autor abandonou sua veia autoral e pessoal e resolveu ganhar dinheiro, e por isso apelou a algo mais fácil? Oras, um mangá como AK não tem nenhuma necessidade de barrar em filtro social contra violência e envolvimento de temáticas mais adultas, de fato o mangá sequer tende a isso. É um mangá de escolinha, divertido, com seus alunos pacatos de sempre, e pode acabar enveredando para esse lado, e não para o lado do polvo assassino. Realmente torço para que isto seja só uma suposição. Imaginando ser verdade: ok, ainda assim AK poderá se tornar uma boa obra, há coisas interessantes por aí sem qualquer veia autoral e pessoal, feitas apenas para gerar dinheiro. Nada contra, isso é questão privada de cada autor, não nos cabe dizer o que deve e o que não devem fazer, mas também temos o direito de rejeitar essas obras. Não posso me intrometer, mas lamento, porque neste caso teríamos um autor com potencial acima da média utilizando menos que seu talento prevê. Com raríssimas exceções, é muito difícil conciliar o desejo de vender com o desejo de criar uma obra propriamente sua e especial. Quando essa combinação ocorre, geralmente é porque a obra é boa e porque o autor pensou em fazer algo especial, não só em vender. Vender foi consequência. Agora, partir com as duas premissas raramente leva aos dois caminhos, geralmente a só vender ou a nenhum dos dois.
Sobre o que espero de AK? Bom, penso que o provável é que Koro-sensei se tornará mais professor e menos assassino, sem cair no melodrama de amizade com criancinhas, será algo mais interior e não tão evidente. O plot central ainda não foi revelado. A temática de Neuro estava clara desde o início (a intencionalidade criminosa e/ou maligna), já em AK ainda está oculta. Sempre é referenciado que ninguém sabe porque ele quer destruir a Terra ou porque ele decidiu virar professor de uma sala de alunos rejeitados, e é nestas respostas que obviamente girará o tema central. Há uma conexão clara aqui, Koro-sensei quer ensinar pessoas algo que elas esqueceram, e se aprenderem isso, ele não precisará destruir a Terra. Mas por que alunos rejeitados? Por que não alunos de salas convencionais? Em alguns momentos há toques de brilho, como quando Koro-sensei insiste que eles devem aprender tudo o que for necessário, porque imagina se por acaso ele é assassinado por outras pessoas? O que as crianças farão? Que motivações terão? A posição das crianças é meio clara: imaginem a figura que decide seguir uma carreira muito difícil (nesse caso simbolizada por matar o polvo), mas e se der tudo errado? Acabou a vida? Não, aprenda outras coisas durante o percurso, não coloque todos os ovos no mesmo lugar. Por fim, a temática girará por aí. Não acredito que surgirá um vilão maior, acho que Koro-sensei é realmente o mais poderoso de todos, e tudo se centrará na relação dele com os humanos. Duvido demais que isso se torne battle shonen. Em Neuro, a detetive Yako em certo momento entendeu que ser escrava de Neuro era interessante para o seu desenvolvimento. Uma atitude madura e séria, e não convencional para os dias de hoje, onde palavras como submissão e devoção fazem muita gente se esconder debaixo da mesa. Espero que Nagisa e seus amigos sigam por aí, sem caírem no infantilismo da amizade de sempre, que eles vejam Koro-sensei como alguém foda e com real interesse na formação deles. Se bem que ensinar para matar já é uma excentricidade por si só, e aqui nosso amigo Matsui ganha pontos, agora precisa desenvolver isso. Enfim, apenas minhas expectativas.
Boa sorte para Yuusei Matsui. Tem potencial para se manter no topo e para liderar a mudança de costumes entre os fãs da WSJ. Tomara, precisamos de novos ares.
Claro, isso tudo não depende só dele, depende muito se não aparecerá um novo battle shonen bom e que vende (duvido que Hungry Joker seja este abençoado). E bem, a discussão: “o que vem acontecendo com os battle shonen” fica para outro post, porque já antecipo, também seria muito se surgisse um battle shonen novo e criativo. O problema não é o battle shonen, é o acúmulo de génericos sem graça e a aparência (não realidade) de que este gênero alcançou seu limite. Hoje só tentei dar uma de Mãe Diná e ver se Yuusei Matsui é o cara.
Muito bom artigo. A primeira vez que vi que sairia esse “mangá do polvo”, de cara eu já pensava “nossa, mas que mangá tosco”, até comentava isso. Porém, depois de ter saído uns 5 capítulos, me propus a ler e quebrei a cara. O mangá era muito divertido, diferente e engraçado.
Eu não sabia que o autor já tinha feito alguma outra obra, até porque praticamente nem olho pra autor, e o Shinuki ainda disse que Ansatsu simplesmente apareceu na Jump, sem ter passado em lugar nenhum antes. Você disse aí sobre o mangá anterior ser sério e tudo o mais, eu não vejo AK assim, ele não quer passar epicidade, ‘nossa que foda’ nem nada do tipo. Ele só quer ser divertido e descontraído, no meio de tanta pancadaria que já tem, ler AK e seus momentos sem noção é um complemento aos outros mangás.
Aliás, eu do risada só de olhar pra cara do Koro não sei porque (na verdade eu sei porque, porque ele tem essa cara de bobo alegre). No capitulo 19 na parte da banheira eu fiquei rindo por um tempão. O Koro é todo foda e poderoso, quando chega em uma parte quando o responsável pela turma E manda ele ir brincar na areia e ele vai lá brincar, você ri pelas cenas absurdas e non sense da coisa.
Se AK quisesse virar Battle Shounen, poderia ser feito em um piscar de olhos, é só aparecer Moluscos superpoderosos igual ao Koro, e as crianças treinadas serem as responsáveis de derrotá-los. Mas creio que vai seguir na linha que falei, um mangá descontraído e com um plot correndo ao fundo, como por exemplo do reitor da escola e o fato do Koro ter sido um humano no passado. Que aliás a fala dele de “tentando ser o salvador da terra você foi reduzido a seu destruidor” já mostra que ele não foi o responsável pela destruição da lua.
Bom comentário. Assim, eu gosto muito da comédia de AK, como falei no texto, e certamente não há razão alguma em abandoná-la, seria absurdo. O que tentei dizer é que lendo pelas obras anteriores do autor ele tinha uma queda muito grande para um lado mais tenso. E já tinha comédia e bizarrices antes, Neuro é cheio delas, mas ia sempre em paralelo a uma trama mais tensa. Não é que Neuro fosse uma obra estilo Seinen só com capítulos dramáticos, era cheia de cenas engraçadas e nonsense. Eu nem sou fã de obras que tentam ser épicas, se AK ser uma comédia bem feita já está ótimo. Eu só espero que o autor não perca sua veia polêmica e resolva escrever coisa só pra agradar todo mundo, porque que ele tem capacidade pra manter a comédia bizarra de AK sem cair em mesmisse. Confesso que quando fui reler pra escrever o texto acabei gostando bem mais que da primeira vez, só continuo achando muito enrolado, mas algo que é possível resolver. Quanto ao Koro não ser vilão e não ter sido o responsável pela destruição da Lua é interessante. O Koro claramente não é um vilão, mas também não precisa ser o mocinho que ensina a matar em prol de um bem maior. Enfim, em todas as obras anteriores o Matsui tinha algo mais sério a falar junto de comédia, por isso acredito que em AK também será assim.
Sim, claro, ele não é um vilão, mas também não é um mocinho, da pra ver em suas ações quando ele fica zangado.
Quanto ao plot, no capitulo 20 parece que deu uma andada, mostrou os lideres mundiais cogitando mandar um missil nuclear na escola quando o tempo estiver acabando (o que resultou em uma comparação hilaria em como isso não daria certo). E introduziu “assassinos especiais” que são resultado do poder da ciência, praticamente o que o Koro é, já que se confirmou que ele era um humano antes. Um dos assassinos é uma máquina, veremos se o próximo é um humano com poderes. Aliás, bem bolado fazer a luta do Koro no melhor estilo dele (defletindo uma bala com um giz).
Haha a parte da defesa com o giz foi hilária mesmo. Em relação aos novos assassinos, eu já tinha comentado isso no texto. Nesse sentido segue a lógica de Neuro: como o Koro é sobrehumano, muito além dos padrões normais (a preocupação dos líderes políticos mostra que ele é muito além mesmo, porque se tivessem outros como ele no Governo não haveria tanto barulho), o caminho a ser buscado é que os humanos tentem se desenvolver de algum modo para superar suas limitações. Robôs, mutações com a ciência, desenvolvimento de superpoderes, etc, enfim, a tendência é que tudo isso comece a aparecer. Meu palpite é que esses dois assassinos armarão uma estratégia boa, darão trabalho, mas serão derrotados, e aos poucos a classe começa a ficar do lado do Koro. Enfim, não é uma crítica, só um palpite. Gostei bastante do capítulo de hoje.
E cara, tem que admitir, o Koro-sensei é um dos melhores personagens dos últimos tempos haha, ele é muito hilario.
A grande questão é essa que você levantou: já que o Koro era humano, como ele virou aquilo e como ganhou tanto poder? E daí que virá a explicação se terão outros igual a ele ou não. Não parece ser algo ligado ao Governo, embora eles saibam a razão. Talvez tenha razão com a escola e só o reitor saiba. Aliás, isso explicaria a escolha daquela escola para dar aula. Isso aí vai ser muito bacana, porque vai fugir totalmente de Neuro.
Bom texto, acabou sendo menos cansativo do que aparentava por causa do tamanho do texto. Que no fim acabou me motivando mais a ler Neuro do que explicar um pouco sobre esse fenomeno na ToC causado por AC. Mas uma coisa que não pode-se deixar de lado nessa popularidade de AC é a fanbase que Neuro deixou, o que faz que os fãs antigos de Neuro deem boas notas para AC, apenas para ver outra obra do mesmo autor se dar bem. Então juntando a fanbase antiga, mas novos fãs que estão sendo adquiridos por AC, resulta nessa popularidade que AC está conseguindo.
Normalmente autores que tiveram um trabalho antigo que fez um certo sucesso anteriormente, no inicio consegue uma boa popularidade por causa dessa fanbase. Para explicar esse fenomeno que está acontecendo na ToC seria melhor usar PSI Kusuo Saiki, que é um gag assim como AC, porém com um novato como autor e esse mangá está rendendo uma boa popularidade e algumas aparições no top 5 da Toc. Inclusive esse autor de PSI faz um tipo de humor bem parecido que o Matsui utiliza em AC, até por isso rendeu um crossover entre AC e PSI.
Só não te recomendaria pra ler, por que por enquanto há poucos capitulos tanto em português quanto em inglês, só tem 4 capitulos, enquanto no Japão ta na casa dos 20 capitulos, quase 30.
A intenção era mais tentar ver se AK tem condições de se segurar na ponta, e pela qualidade de Neuro e pelo início de AK me arrisco a dizer que sim. De fato, bom ponto esse da fanbase de Neuro ajudar AK, até porque Neuro era metade da tabela, geralmente.
Acho interessante destacar que AK entrou direto na WSJ, o que demonstra que a revista tem confiança no Matsui, o que se confirma pelas menores intervenções em Neuro (comparando com outras obras).
Em relação ao sucesso de AK, meu palpite que é uma somatória de temporada ruim dos battle shonen maiores (nenhum deles está realmente empolgando seus fãs), e uma certa ausência de novos battle shonen criativos, pois a maioria não está conseguindo fazer mais do que copiar os sucessos de sempre. De certa forma isso cria um vazio e uma repulsa nos fãs, que se sentem motivados a festejar algo diferente e fora dos padrões convencionais (AK). Além disso Death Note já tinha mostrado que a Jump pode fazer sucesso também em outros campos, e é bom lembrar que Neuro se aproveita em parte da estrada feita por DN, principalmente com a questão de puzzles e inserções mais psicológicas nos personagens. Esse tipo de coisa pode dar certo, se for feito com criatividade. O problema é que até agora parece que apenas Ohba e Obata e agora Matsui acharam o caminho de fazer algo diferente mas dentro dos padrões do público Jump (no caso de Matsui aprendeu com Neuro a como achar a popularidade). Ou seja, existe um meio-termo entre ser diferente mas não diferente demais que não é fácil atingir. Enfim, há muita coisa a ser analisada, e talvez gere post futuramente.
Quanto a PSI, realmente me chama atenção. Vou ler os primeiros capítulos porque já dará uma noção do estilo da obra. Ao menos deve vencer a navalha dos 20 capítulos.
Nesse ponto, do mal momento dos BT abrir espaço para coisas diferentes, concordo totalmente. Ainda mais se voltarmos há algumas semanas atrás onde apenas um BT ficou entre os 5 primeiros na ToC.
E sobre PSI, eu tenho muita vontade de ler, mas quero esperar mais capitulos, pelo menos em ingles, para começar a ler, odeio ficar esperando lançamentos. E ele já passou da casa dos 20, ele é da mesma leva de Sensei no Bulge.
Hoje os BS deram uma reagida (ao menos Bleach, já que Naruto ainda não conseguiu voltar ao top 3), mas por outro lado AK mantém-se firme e forte no topo.
Sobre o Shuuichi Asou, autor de PSI, algo interessante e que descobri ontem, é que PSI já é o terceiro mangá dele na WSJ, sendo que o primeiro em 2007 durou 6 volumes (Boku no Watashi no Yuushagaku) e o segundo em 2009 não passaou a navalha dos 20 capítulos (Shinseiki Idol Densetsu: Kanata Seven Change). Aí eu pergunto: se ele tem talento a ponto de aparecer uma terceira vez depois de dois fracassos por que cortaram o cara tão cedo antes? E se o cara é ruim por que dar nova chance?
Em breve pretendo escrever sobre Kuroko no Basket também, que é outro nome aparecendo muito bem, sempre peleando em torno do top 3.
Obrigado pelos comentários e visitas Juca, volte sempre!
Não consegui responder a sua resposta, então vou responder aqui mesmo. Sobre essa do autor de PSI eu não sabia, mas ao contrario do Matsui ele não fez muito sucesso pra criar uma fanbase, digo isso levando em consideração que a segunda obra dele foi cancelada antes da casa dos 20. E é muito interessante mesmo o fato da Jump apostar uma terceira vez nele, por que isso? Talvez nunca saberemos.
Vou esperar com ansiedade sobre Kuruko, mesmo só tendo assistido o anime, essa é uma série que eu gosto muito e pouco a pouco ele está beslicando uma posições entre top 5, será uma nova tendencia também? Não esquecendo que Haikyuu, que também é de esportes, é um mangá que volta e meia belisca um lugar no top 5.
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Lendo esse texto 6 meses e 20 capítulos depois, é incrível como muita coisa se mostrou acertada. Sim, realmente o mangá pendeu muito mais para o lado “escola” do que os “assassinatos”. Por mais que o tema assassinato seja constante, há muito que ele saiu do foco do professor.
Quando Ansatsu Kyoshitsu estreou, muita gente comentou que tinha uma ideia que não duraria muito, ou que para prolongar a série teriam que descaracterizá-la completamente. Aliás, fiquei surpreso do texto nem citar isso. Porém, à véspera do capítulo 50, o escracho e ridículo do mangá se mostraram a maior arma para lidar com este problema. Não me surpreenderia se em breve revelassem que:
– O Koro-sensei prolongasse o prazo para seu próprio assassinato. Afinal, os alunos estão no último ano do ensino fundamental, é fácil ele falar que vai esperar até eles se formarem no ensino médio.
– O professor revelasse que na verdade a ideia do assassinato é tornar uma pessoa preparada para enfrentar algum ser parecido com ele, mas esse sim maligno, que surgiria no prazo de um ano.
– Que o professor não explodiu realmente a lua, mas que ele assumiu essa culpa por algum motivo desconhecido. Portanto, toda a justificativa para matá-lo iria pelo ralo.
– Tudo isso junto.
Todas essas possibilidades não descaracterizam a obra, pelo que foi apresentado até agora. Matsui criou a obra com fundamentos tão vagos, que qualquer coisa que surja nela é aceitável. Não que isso seja ruim, pelo contrário. Se isso servir pra que Ansatsu Kyoshitsu continue a ter histórias tão engraçadas quanto tem mostrado, não há problema algum.
Ótimo comentário.
Acho que nos últimos tempos o mangá perdeu um pouco o fôlego. A premissa ‘assassinato’ ainda não foi esquecida, mas é fato que ‘escola’ ganhou muito mais relevância. O problema maior, pensando meses depois, é que o Matsui não parece competente para dar uma solução aos seus problemas. O Neuro era muito mais complexo que o Koro e mesmo assim não terminou como vilão da história. Então hoje acho que é possível afirmar sem medo que aquilo é formação de assassinos para enfrentarem outro inimigo/problema, etc.
Enfim, o que impede AK e Neuro de se tornarem melhores, mais do que a Jump e o seu público, é o próprio autor. Mas ele é jovem, deve melhorar ainda.
Volte sempre.