Mas que vaca é esta Hiromu Arakawa!

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Esses dias um amigo falou do polvo, que embora seja um animal inteligente e bastante veloz (mach 20 oras), não está na classe superior que habita este planetinha: nós, as vacas. E para provar a superioridade bovina hoje falarei de Arakawa Hiromu, uma líder que orgulha nossa raça. Antes de iniciar gostaria de frisar que não fui totalmente a favor a ela ter um filho com um sapo, mas enfim, poderia ser pior, poderia ser com um humano, logo não posso reclamar muito.

Pink Floyd - Atom Heart Mother

Bom, será um passeio pela fazenda, então sugiro ficarem ouvindo essa recomendação do nosso amigo Musashi: Bill Monroe, figura sagrada do bluegrass. Caso você seja urbano demais, pode ouvir esse aqui.

Nossa amiga Arakawa desde o início parece ter muito potencial para contar histórias longas e grande dificuldade para coisas curtas. Normal ué, estamos acostumados a ruminar, degustar cada alimento, logo coisas velozes pós-modernas não alcançaram nossas vidas pacíficas e rurais. Por exemplo, o one-shot Stray Dog e o volume único Demons of Shanghai, são válidos como treinamentos e por lançarem premissas que serão desenvolvidas em Fullmetal Alchemist, mas não trazem nada diferente do que os humanos fazem por aí, e nossa amiga pode mais do que isso. O primeiro one-shot ao menos tem a audácia de falar dos cães do exército, e claro, todos sabemos que boa parte dos cães não passam de lambe-bolas de humanos, logo traidores. Não que não tenham existido cães geniais como Snoopy ou Bud, que era melhor que Michael Jordan (aliás, até a turma dos Looney Tunes, bichos roliudianos, são melhores que ele). Cão do exército vira xingamento depois em FMA, merecidamente.

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Assim como Baloubet Du Rouet, pulemos FMA. Depois de ruminar sobre alquimia nossa amiga de belas curvas publicou outras obras curtas que não têm o mesmo brilho. Uma delas é Raiden-18, sobre um torneio de criação de Frankensteins. É, a premissa é legal, e até que a história é legalzinha sim, mas sabe como é, de uma vaca sempre esperamos mais. Tem uma discussão sobre criação de vida e ciência que lembra FMA, mas acaba se saindo melhor pela comédia do que pelo argumento. O que não é ruim, só revela como o campo é um lugar alegre. Já Souten no Koumori, me desculpe Srta. Arakawa, sem condições. O único mérito é preparar o leitor para Juushin Enbu, que foi criado juntamente com Huang Jin Zhou, uma unidade envolvendo a vaca, Genco e Studio Flag. Ah não é ruim não, battle shounen até que acima da média que é feito por aí, e a ambientação em uma China envolvido em contos heroicos dá um aspecto interessante, mas falta brilho.

Nossa amiga vaca fez uma série de obras curtas mais ou menos, mas e daí? Ela fez FMA e Gin no Saji oras, o que já lhe garante um patamar bem acima de mangakas humanos. Bom, FMA acho que todo mundo conhece, é a bandeira do battle shounen metido a intelectual, já Gin no Saji nem todos conhecem, e dos que conhecem muitos viram a cara, e dos que não viram a cara muitos ainda não gostam. Opa, estou falando de terras brasileiras, porque no Japão todos adoram a história da fazenda, tanto que teremos anime ano que vem.

Gin no Saji é a história de Hachiken, que só quer sair de casa e viver longe da família, e por isso aceita ir estudar em uma escola agrícola, onde conhece uma série de amigos provenientes de famílias de granjeiros, agricultores, pecuaristas, gente da grana dos agronegócios e que se fossem brasileiros estariam brigando com ambientalistas por causa do novo Código Florestal.

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Gin no Saji é muito bonito. Por quê? Mas que pergunta, é uma história na fazenda, com vacas, porcos, bezerros, galinhas, leitões, vacas, patos, cavalos, esterco, passarinhos, gramados, fábrica de queijo, vacas dando a luz, Sol, mais vacas, hipismo, beisebol, Professor Buda, diretor, enfim, precisam de algo mais?

Nossa amiga vaca dá duas aulas ao mesmo tempo, aliás três. Primeiro: como fazer algo com o coração, é autobiográfico e sentimental a cada momento. Mesmo se você nunca pisou no campo (e eu sinto muito por isso) ainda assim tenho certeza que você sentirá a sinceridade e o esforço de nossa vaquinha em discutir consigo mesma, com o seu passado, com as suas origens e o que isso tudo representa para seu presente e futuro. Segundo: é uma aula de vida simples e rural, um aspecto de nosso mundo que as crianças e jovens cada vez mais desconhecem, viciadas em seus notebooks, celulares e ipods. De como cavalgar a como fazer queijo, a como colocar a mão no ânus da vaca, enfim, várias lições simples e práticas de um outro mundo, que embora seja o nosso mundo real e natural, já esquecemos (quero dizer, nós não esquecemos, vocês humanos sim). Terceiro: é uma obra existencial, e para desenvolver isso precisamos conectá-la a FMA.

Um dos pontos mais fortes da saga do fullmetal Ed é a recuperação de seus corpos e a dificuldade de se relacionar com os pais. No caso amor pela mãe e temor e ódio ao pai. Isto é tão forte que em vários momentos os irmãos voltam à região natal, como se isso simbolizasse o drama profundo que toda pessoa enfrenta para cortar ou reconstruir sua ligação com a infância, família, primeiro lar. É duro e sofrido, de idas e vindas.

Também há isso em Gin no Saji, nosso protagonista quer ficar longe de casa. Gosta da mãe, mas odeia o pai. Ed não tem objetivo de vida, futuro que sonha, apenas quer consertar o passado, como se isso fosse tão simples como consertar um braço feito de automail. Hachiken não tem qualquer sonho, é alguém que desistiu do futuro. Até aqui ambas as obras percorrem caminhos similares, limitam-se a fugir do passado. Mas é agora que Gin no Saji brilha e se distancia do ótimo FMA.

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Hachiken foge de si mesmo e do seu passado tentando ajudar os outros. Pensa nos outros apenas, a todo o momento, para evitar pensar em si. Quer ajudar os outros a realizarem seus sonhos, para que ele não precise realizar o seu. Mas isso não é encorajado pelos demais, que sabem e veem no rosto sincero e transparente de Hachiken a sua dor que nem ele compreende. Hachiken é brilhante e guerreiro e pode ter um grande futuro ainda, mas para isso precisa tomar coragem. Gin no Saji, de modo lento, muitas vezes de difícil percepção, vai se transformando na superação de um jovem que quer conhecer o mundo e construir a própria vida. Para isso terá que enfrentar o passado, mas não se fixar nele. Ed nunca foi tão longe, o seu limite foi o acerto do passado. Já Hachiken vencerá seu irmão Ed. Arakawa vencerá seus Eds e Hachikens.

Como uma vaca, eu poderia falar páginas e páginas das belas imagens dos animais, das lições de vida, de uma linda história que embora muito simples nunca cai na bobagem, e que numa era de pura tecnologia, ainda permite o campo brilhar. Há tecnologia no campo de Gin no Saji, mas há muito verde, Sol, animais, coisas vivas e da Natureza. FMA é muito bom, mas Gin no Saji é uma obra sincera, pessoal, corajosa e que ensina muitas pessoas a verem um Planeta Terra que pensam não existir. Hachiken não sabia como surgiam ovos de galinha. Hoje é líder de um mundo novo.

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Utilizei algumas ideias de FMA apenas com conexão com Gin no Saji. Certamente aquela épica saga ainda tem muitos outros trunfos e argumentos relacionados, mas acho que todos já conhecem eles, então não há porquê se estender. Por mim, basta dizer que FMA é uma aula de como fazer battle shounen, um battle shounen que sem deixar de ser divertido e emocionante também respeita o cérebro do seu leitor. E não me refiro a profundidade, discussões filosóficas, mas a respeito por personagens, por seus desenvolvimentos, para seus protagonismos, sim, até secundários em FMA viram protagonistas de vez em quando. Todos brilham, todos tem suas razões e virtudes, mesmo aqueles que representam os pecados e vícios, aliás que grandes personagens são aqueles.

Por essas e outras eu afirmo: vacas são mais inteligentes que humanos. Gin no Saji sabe muito bem disso, pois diz toda hora que vacas e cavalos são mais espertos e dignos. Sábia esta minha amiga vaca. Sábia Arakawa, digna representante da melhor espécie deste planeta.

Vacas do mundo, uni-vos!

É isso aí povo, até a próxima e feliz ano novo a todos!

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7 respostas para Mas que vaca é esta Hiromu Arakawa!

  1. tatu disse:

    essas vaca tudo hipster
    da n

    • Vaca disse:

      Que nada, apenas somos fieis a nossas origens rurais. Você, por exemplo, é um tatu que acabou fazendo viagens nas estrelas. Louvável também, nunca um tatu foi tão longe.

  2. tatu disse:

    é isso ae =)

  3. Enfiar a mão no ânus da vaca eu acho que é algo que não precisamos aprender >__<

    Mas a sensação de pegar nos seios de uma vaca, é única, ou mesmo de beber aquele leite engordurado e quentinho, ordenhado na hora XD Essa história me lembra um pouco da saga inicial do protagonista de Chobits, que faz o percusso inverso ao de Gin no Saji – No caso, ele deixa o campo e vai pra cidade grande, e lá precisa aprender a lidar com coisas que nunca viu, ou tem pouca familiaridade.

    • Vaca disse:

      Haha de fato, tomar leite direto da vaca é outra coisa.
      Um anime desse ano que trabalhou de modo engraçado toda essa dificuldade de se adaptar ao campo é Jinrui em seu primeiro arco, principalmente naquelas cenas das galinhas e do pão industrializado. Muito engraçado.

      E boa lembrança sobre o caminho inverso (mundo rural – urbano). Na verdade nesse caso a situação é ainda mais importante, porque aprender o valor da vida no campo infelizmente não é essencial hoje já no mundo urbano, sim.

      Muito obrigado pelo comentário e volte sempre!

  4. Ever disse:

    Da onde veio seu nick Vaca e essa fixação com Vaca?

    Ademais, sendo direto ao ponto, você recomenda Silver Spoon?

    • Vaca disse:

      Vaca vem do Lambo, sim, é um personagem que todos odeiam e o mangá é bem ruim, mas eu gosto do Lambo haha.

      E certamente recomendo Gin no Saji. Talvez no texto não tenha ficado claro, mas considero superior a FMA. Não sei se as pessoas gostarão tanto dele como de FMA, porque não é de batalha e a ambientação na fazenda realmente afasta muita gente, mas enfim, tem várias qualidades.

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