“I know it’s not a game anymore.”
A terceira temporada de The World God Only Knows que começou a ir ao ar nessa estação narra os eventos que acontecem durante a saga das Goddesses no mangá. É um pulo significativo no enredo em relação ao fim da última temporada. Muitas coisas que ocorrem no mangá e que levam vários capítulos para serem desenvolvidas foram rapidamente resumidas nos primeiros minutos do episódio de estréia dessa nova temporada. Tudo isso a fim de começar o anime mostrando acontecimentos inciais da saga das Goddesses. Por mais que eu goste de muita que acontece durante os capítulos que foram pulados, eu entendo a decisão dos produtores. A saga das Goddesses é, provavelmente, o ápice de qualidade de The World God Only Knows. É o arco que me fez respeitar esse mangá e colocá-lo entre os meus favoritos.
Contudo, antes de continuar atropelando quem nunca ouviu falar de TWGOK, é bom dar algumas explicações: O que é esse troço e porque eu pago tanto para pra ele. Contém spoilers levíssimos.
The World God Only Knows (também conhecido como Kami Nomizo Shiru Sekai) é um mangá de comédia romântica que já ganhou três temporadas como adaptação em anime com a terceira começando a ser transmitida na época em que esse post foi escrito. TWGOK conta a história de Katsuragi Keima, um nerd conhecido como “deus da conquista” por causa das suas impressionantes habilidades jogando simuladores de encontros (Galges, Dating Sims). Nesses jogos, o jogador tenta conquistar garotas virtuais e Keima é capaz de conquistar qualquer uma de qualquer jogo. Entretanto, por causa de sua fama, acaba fechando um contrato com um demônio do inferno (que, na verdade, é uma garota atrapalhada chamada Elsie) com o objetivo de conquistar garotas reais e expulsar as almas perdidas que habitam o vazio dos seus corações. O contrato é um engano, pois o demônio não sabia que Keima se referia a garotas virtuais. Como quebra de contrato significa morte, Keima é obrigado a começar a conquistar garotas do mundo real contra sua vontade.
TWGOK apresenta uma proposta que eu considero inteligente se comparada a outros títulos semelhantes. Eu não gosto de categorizar a obra como LoveCom como faço com outros mangás, porque ele desafia e brinca com muitos tropes amplamente utilizados por esse títulos, apesar de, no final, ainda ser uma comédia romântica. TWGOK bebe muita da fonte dos próprios Dating Sims que cita extensivamente e usa suas mecânicas a fim de dar uma chacoalhada no formato típico de um LoveCom, além de acrescentar uma boa dose de crítica ao gênero.
Se você tiver tempo e ainda não leu meu texto sobre lovecoms, dê uma olhada nele (link aqui). Eu defendo no texto que LoveComs típicos são mangás sobre conquistas e não sobre relações amorosas. Nem o autor, nem os leitores estão realmente interessados em mostrar a vida de um casal. Na verdade, o foco está no processo pelo qual se chega nessa situação. O leitor está, de fato, interessado no que a relação poderia ser e, também, em como chegar até ela. Ninguém quer saber o que o Keitarou quer fazer com Narusegawa em Love Hina, o interesse está em como um nerd fracassado pode catar uma cocota que nem a Naru.
TWGOK chuta o balde e apresenta uma história que, no começo, consiste apenas de conquistas. Ele é franco com os interesses do leitor de uma maneira que eu nunca tinha visto em mangás de comédia romântica antes. O fluxo de acontecimentos, em geral, segue essa ordem: uma garota é apresentada com algum tipo de problema, Keima a conhece, Keima a conquista, o vazio no coração dela é preenchido e ela esquece de tudo. E começa tudo de novo, com outra garota imersa em outro nema e com Keima tendo que lidar com o desafio diferente a cada nova oportunidade.
O mangá apresenta o seu conteúdo numa “densidade” que eu não vi em nenhum outro título de comédia romântica. É uma grande variedade de garotas, de desafios, de temas e de situações amorosas em poucos volumes. É fanservice franco, inteligente, competente e direto. E isso sem apelar para o ecchi.
Por mais que eu respeite isso, não é por essa razão que eu pago pau para TWGOK. Seria um sério problema se o mangá se resumisse a só isso. Entretenimento sem proposta social, sem expressão pessoal ou sem ambição é algo que não me agrada. É um produto que serve só para matar o tempo e não nos enriquece como pessoas, não nos ensina nada novo, etc. O caso de TWGOK seria pior porque todo esse formato de conquistas sucessivas e temáticas é construído com o objetivo de satisfazer necessidades meio estranhas e obscuras dos seus leitores. Meio patéticas dependendo do ponto de vista de quem estiver observando.
Felizmente, esse não é o caso de The World God Only Knows e a terceira temporada está aí justamente para mostrar isso.
Isso não acontece de um momento para o outro. Antes das sagas das Goddesses, em arcos anteriores, TWGOK é sútil ao começar a questionar a estrutura e os elementos em que está inserido. Tudo é muito conveniente para Keima no início. Não é muito diferente dos jogos que ele é acostumado a jogar. Há vários fatores que aproximam “a realidade” das experiências com as quais ele normalmente lida em seus jogos.
Alguns são bem óbvios: Os poderes demoníacos de Elsie são muito úteis a Keima. Desde invisibildade para vigiar seus alvos, a substitutos para Keima e para as garotas afim de colocá-los em situações aonde os planos mirabolantes de Keima podem dar certo. Outros fatores são mais implícitos, como, por exemplo, a reação que as almas perdidas no vazio dos corações das garotas causa no comportamento delas. As garotas passam a se comportar de maneira muito semelhante aos estereótipos que Keima normalmente encontra nos seus jogos. O resultado é que o processo de conquista se torna um puzzle. Um puzzle que Keima está muito acostumado a resolver nos seus jogos. O ápice disso é a amnésia pós-conquista que afeta todas as garotas. É conveniente demais não ter que lidar com os sentimentos alheios e com as consequências das suas ações. Livra Keima de todas as responsabilidades que uma relação tem e permite que ele vá atrás do próximo rabo de saia sem peso nenhum em sua consciência.
TWGOK semeia suas críticas distorcendo levemente esses fatores para mostrar que o equilíbrio e a situação em que Keima se encontra é muito instável. São coisas simples: Uma garota pela qual Keima acaba se ligando emocionalmente mais do que deveria. Uma garota que é “comum” e passa longe de se encaixar em qualquer um dos estereótipos que Keima normalmente está acostumado. Uma mulher muito mais madura que o nosso protagonista, o que obriga o garoto a adotar uma abordagem totalmente diferente (e a quase falhar no processo).
É um pouco decepcionante que o anime salte alguns desses momentos e vá direto para a cereja do bolo, mas, como eu disse antes, é compreensível. A adaptação de TWGOK para anime é brilhante, acrescenta significativamente em relação a experiência do mangá, mas isso não se refletiu em vendas pelo visto. As aberturas da primeira e segunda temporadas são exemplos. São lindas, musicalmente únicas (nunca vi músicas do tipo) e estabelecem uma estética para o anime. Algo que identifica o anime e que o mangá simplesmente não possui.
A abertura da terceira temporada, por mais que não me impressione musicalmente quanto as anteriores me impressionaram, apresenta uma conexão com a proposta e os temas da saga das Goddesses que me fascina. Eu não costumo prestar atenção à letra das aberturas, mas eu percebi que algumas coisas estavam encaixando-se bem demais. O que estrofe dizia, com o que a imagem estava mostrando, com o que a história apresenta. É o tipo de coisa mindblowing que acontece quando se “liga os pontos”. O estúdio Shaft costuma fazer isso bem. Maria+Holic tem uma abertura que resume todo o conteúdo do anime. As aberturas de Bakemonogatari são a mesma coisa.
“Can you hear? I’m calling you
I just wanna feel you
Don’t forget to remember
so please remember”
Isso é cantado enquanto Keima é mostrado durante a abertura. E a verdade é que isso resume bem as ações de Keima no decorrer da saga. E em seguida:
“I hear you are calling me
I want you to feel me
You know I won’t surrender
never surrender”
Trecho que é cantado enquanto as garotas são mostradas e que resume o papel delas na saga também. E por fim:
“I know it’s not a game anymore.”
Verso que resume a proposta da Saga das Goddesses e porque eu gosto tanto de The World God Only Knows. É quando a estrutura que Keima está acostumado começa a desmoronar. Quando todo o background dos demônios caçando almas perdidas começa a ficar sério e deixar de ser apenas um recurso de enredo para facilitar as conquistas de Keima.
É quando o mangá para de dar o que o seu leitor típico quer receber e começa a tentar fazer ele pensar um pouco mais sobre o que, diabos, ele está lendo. E é o que eu espero que o anime faça também com os seus espectadores.
Isso aqui não é um “primeiras impressões”. Muito menos uma review, porque o mangá ainda não acabou. Está mais para um texto motivacional com o objetivo fazer você assistir o anime ou ler mangá, caso já não o tenha feito. The World God Only Knows é muito bom, ele mergulha no universo dos simuladores de encontros e das comédias romãnticas e, a partie dali, começa a avaliar e questionar porque está ali e o quão estranho e potencialmente errado é tudo a sua volta e faz isso usando ótimos personagens, enredo bem construído e muitas situações emocionalmente intensas.
Eventualmente, eu volto aqui e justifico essas afirmações com uma review de verdade, mas, por enquanto, vá assistir esse troço. Eu acho meio decepcionante que exista tão pouca expectativa no entorno desse título. Ele vai fazer (e está fazendo) o que Madoka Magika fez com as Mahou Shoujos e com um assunto que, de fato, é problemático para quem acompanha animes desse gênero. Eu não gosto muito desse termo, mas The World God Only Knows é uma desconstrução que desconstrói o que realmente vale a pena ser desconstruído.
Eu tinha cogitado assistir ao animê quando saiu a segunda temporada, mas não tinha visto a primeira ainda. O mesmo acontece agora, e talvez o texto seja uma motivação a mais. O que achei mais interessante foi a comparação com Madoka, algo que, se não estiver exagerando, vai me fazer conferir mesmo. O problema é que, pelo que entendi, o mangá tenta distorcer o gênero comédia romântica, algo que não é tão padrozinado quanto o mahou shoujo. E Madoka tem uma profundidade muito mais artística, algo que talvez não funcione inter-mídias. Bom post, boa proposta analítica.
Tem muita comédia romântica que não é padronizada, mas existe também outra parte que é muito padronizada. Entre as padronizadas dá pra citar Love Hina, I”s e os recentes Nisekoi e Kimi no Iru Machi (pelo menos o seu começo). Eles tem um formato bem definido e pouca variação entre eles e as razões desses títulos serem tão padronizados não são tão nobres. Entretanto, isso é bem mais forte em mangá, animes de romance, em geral, não são tão padronizados. Uma das razões é que não existem tantos romances mais sérios e emocionalmente intensos sendo animados. São coisas mais leves e não tão focados em romance em si, mais em fanservice (me vem a cabeça To Love Ru ou Ore no Imouto (pelo menos a primeira temporada, não vi a segunda), mas tem exceções como Toradora, que é um troço bem único e bem dramático.
Que decepção o final do mangá, rusharam mais que o satanás, eu esperava saber como funcionava a organização toda, entender o passado da Else ver uma batalha fodona das deusas contra algum tipo de demonio supremo e o keima dando mais atenção a elas, teve menina que ele nem beijou e já restaurou o poder todo? Visto que o poder delas vem do amor, nao fez muito sentido. Eu gostaria de ter visto as 6 meninas tentando conquistar o keima, enquanto o keima tentava se desculpar/reconquistar a chihiro (apesar de torcer para a tenri), que por sinal, só jesus sabe como ela adquiriu as asas, já que ela tinha uma carta do keima dizendo que eles jamais iriam ficar juntos, porra que amor foda esse que o keima deu pra as asas aparecerem. Eu nao ligo que a garota que eu torcia nao acabou com o protagonista, mas eu qria uma explicação melhor pra isso, foi meio que do nada, ele nao tinha nenhuma relação com a chihiro, foi ver se tinha uma deusa nela, pum, se apaixonou, ficou uns bons dias com a tenri (que tbm só deus sabe pq uma garotinha da 1 série se apaixonou do nada por um garoto que ela praticamente nao conhecia a meio dia atrás), e voltou qrendo ficar com a chihiro, ótimas ideias, desenvolvimento porco para elas, me dá uma sensação de nao ter visto uma obra completa, me dá uma sensação de perda de tempo, uma sensação de frustração, bem triste isso, uma obra que até certo ponto era uma obra de arte pra mim, em questão de uns 5 capitulos virou uma obra mediana ruim, se eu fosse resumir a obra seria isso, ótimas ideias, péssimo desenvolvimento para elas… Que decepção.