Nesta Edição: Bakuman, Level E, The Music of Marie, Redline e Reborn!
Katekyo Hitman Reborn!
Autor: Akira Amano
Gêneros: Battle Shounen, Comédia
Duração: 42 Volumes
Sinopse: Conta a história de Sawada Tsunayoshi e do seu tutor, Reborn. Reborn é um bebê e, também, um hitman, um assassino da máfia. Reborn vem ao japão afim de treinar Tsuna e transformá-lo no novo chefe da Máfia Italiana, Vongola; entretanto, terá dificuldades, pois Tsuna, além de ser inútil e não ter talento pra nada, se mostra muito pouco cooperativo com os planos do bebê mafioso. [MAL] [BU] [Wiki]
Reborn!, na minha opinião, é o típico exemplo de série que foi drasticamente moldada pelo modelo de serialização empregado pela Weekly Shounen Jump. Já discuti extensivamente (e põe extensivamente nisso) o que penso desse modelo num texto anterior dividido em duas partes (que podem ser encontradas aqui e aqui). Não acredito que esse modelo seja uma barreira instransponível que evite que boas séries possam ser publicadas na revista; no entanto, esse modelo praticamente decepa tentativas de séries menos inspiradas, além de limitar consideravelmente a maneira como uma série se estrutura e é veiculada.
O resultado disso tudo é claro em Reborn!. Trata-se de uma série que tem zero solidez e zero objetividade. É fragmentada demais, porque a cada arco tenta algo diferente e que não diz nada a respeito ao que foi apresentado antes. Há vários exemplos notáveis.
Primeiro, a série começou como uma Comédia e, mais tarde, quando sua popularidade caiu, transformou-se num típico Battle Shounen. Essa prática revela que a autora foi obrigada a subverter sua série com o objetivo de simplesmente sobreviver. Não estou dizendo que a autora não tenha amor próprio ou que não se importe com a sua série. O problema é que a solidez da obra, nesse momento, vai água abaixo. Se a Amano tinha algum objetivo com a série, torna-se difícil acreditar que ele possa ser realizado tanto como comédia e battle shounen. São gêneros muito diferentes.
É díficil discutir a parte de comédia de Reborn!, pois humor, geralmente, é um negócio subjetivo. Entretanto, tenho que dizer que o Lambo é um dos personagens mais irritantes que eu conheço. Não importa que ele seja uma vaca. Toda vez que ele aparecia em um capítulo, qualquer possibilidade de graça, para mim, era banida da face da terra. Não duvido que isso tenha sido identificado pela própria autora, já que as aparições de Lambo são drasticamente reduzidas a partir da fase Battle Shounen.
Tal fase começa de maneira mais interessante. Acredito que o que fez que a maioria do pessoal que começou a ler Reborn! continuasse a leitura foram as sagas do Mukuro e da Varia que fazem a transição de comédia para Battle Shounen e sua consolidação, respectivamente. Não existe uma razão pontual que explique porque essas duas sagas são agradáveis. A arte é bonita, os personagens se encontram em um lugar mais apropriados ao ser perfil (uma porrada de brigões num mangá que antes não tinha nenhuma briga séria), os poderes são interessantes e os inimigos são algumas das razões nas quais eu consigo pensar.
Contudo, isso não se estende para as sagas seguintes. O que as torna mais fracas que as anteriores é um conjunto de problemas que advém da pouca solidez do título. 1) Não existe desenvolvimento. Os personagens só não evoluem, como sofrem “resets” às vezes. A Amano não tem medo de recriar completamente os poderes dos personagens. Em algumas situações específicas, isso até pode ser beneficial, mas não quando aplicado a quase todos os personagens da série repetidas vezes. Um “reset” quase desvaloriza todo o trabalho feito ao personagem anteriormente.
Essa ausência de desenvolvimento também afeta o plot. A sucessão das sagas não se revela mais do que uma simples sucessão. Não há nada que seja construído conforme elas passam. Não se fecham pontas soltas e, em vez de responder perguntas e seguir plot anteriormente propostos, Reborn propõe novos. No fim, o mangá vira uma coleção de lutas, personagens cools, poderes cools, mas não existe liga ou propósito que os ligue.
2) Não responde ao hype. Me desculpem, mas a resposta ao mistério dos arcobalenos é ridícula. Parece algo abusrdo que a autora bolou de última hora. Não houve preparação. É algo que foi exposto abrutamente e que a maioria dos leitores não engoliu porque não tem desenvolvimento algum. Outros “mistérios” são respondidos de maneira semelhante.
O fim chega a ser até irônico. Depois de 42 volumes, a única coisa que o Tsuna ganha são amigos. Ele é o mesmo bosta do começo e, de todas as aventuras e bizarrices pela qual passou, ele não pareceu aprender nada. Isto, meus amigos, é ausência completa de desenvolvimento.
Mas, bah, não importa, porque ele tem amigos… Blergh.
Level E
Estúdio: Pierrot
Gêneros: Comédia, SciFi
Duração: 13 Episódios
Sinopse: Série de anime adaptada do mangá feito por Yoshihiro Togashi. Conta a história de um príncipe alienígina que mora com um estudante japonês de ensino médio. A presença do príncipe provoca uma série de incidentes entre seres humanos e aliens. [MAL] [Wiki]
Level E, para mim, é o título que, de fato, mostra que o Togashi é um baita autor. Apesar de eu ter acompanhado o anime ao invés do mangá, este é suficiente para mostrar o quanto Level E é legal. É um tipo de comédia inteligente que aborda ligeiramente assuntos mais sérios. Me lembra o que Franken Fran faz, mas bem menos pesado.
A abordagem de Level E é interessante. Geralmente o Togashi propõe um plot absurdo, às vezes com um mistério acompanhando, e, então, vai fundo. A saga dos Colors Rangers é um bom exemplo. Ali, uma situação esdrúxula é apresentada de um jeito realista. O Príncipe equipa um grupo de 5 jovens com uniformes coloridos e poderes “mágicos” e pede para eles enfrentarem o crime. Então tem-se todo o tipo de reação. Desde o Otaku que fica todo empolgado às pessoas que começam a abusar do poder ou tem medo dele. E o príncipe leva isso mais além. Levando os Color Rangers a todo tipo de planeta, dimensão, etc. O príncipe, particulamente, é um dos melhores personagens que eu já vi. Ele é o maestro de Level E. Todas as tramas tem algum dedo dele. É o típico personagem que expira “olha como eu sou foda”, mas muito bem feito.
É uma série que recomendo a qualquer um. Level E é um baita exemplo de uma comédia que é, de fato, divertida e inteligente.
The Music of Marie
Autor: Furuya Usamaru
Gêneros: Drama, Fantasia, Romance
Duração: 2 Volumes
Sinopse: Marie apresenta um mundo único cheio de maravilhas e pessoas felizes que vive, sob a vigilância da deusa Marie cujo canto traz harmonia e felicidade a todos. Kai, um garoto que vive nesse mundo, se interessa por Marie e busca conhecê-la melhor e desevendar seus mistérios. [MAL] [BU]
Marie tem coisas boas e ruins.
Os pontos positivos se resumem a estética. Marie é bonito e único. Furuya, nesse mangá, cria uma estética incrível que afeta todo o mangá. Os personagens, os penteados, os vestuários, as cidades, os jardins, os equipamentos, a própria Marie, tudo é muito bonito e bem desenhado. A arte tem influência Steampunk e bastante personalidade.
Resumindo, Music of Marie é um dos mangás mais cocotos que já vi. Feito?
Tá, agora é a hora do carrasco.
Marie é raso, abrupto e tem muita coisa desnecessária. É um mangá com cenas de impacto, mas que tem pouca profundidade por trás delas. Marie levanta questões filosóficas polêmicas, mas sua abordagem tem problemas. Ignora muita coisa vital para estas discussões e mostra o seu ponto de vista com uma dramaticidade excessiva, quase como se estivesse tentando ganhar o leitor no grito. Além disso, é abrupto. O fim de Marie que é, de fato, o real deal do mangá chega de supetão e remonta em quase nada ao começo e boa parte do meio do mangá. De um slideshows de gente e lugares bonitos e cools, nós temos, de uma página pra outra, cenas e alegorias fortes.
E, por fim, um dos plot twists mais estranhos que eu já vi. A execução dele não é tão ruim quanto os plot twists de Bleach, mas não consigo ver outra função nele a não ser “ei, leitor, peguei você”. Não traz nada de novo para a discussão e não a torna menos rasa.
Marie não é ruim, mas poderia ser bem melhor. A idéia por trás é interessante, mas é executada de maneira medíocre. É um assunto difícil demais para ser lidado de maneira tão rápida. Talvez com mais volumes e menos “olha, mamãe, como eu sou cult” fosse possível conseguir um resultado melhor.
Redline
Estúdio: MadHouse
Gêneros: Ação, Corrida
Duração: 1h42min
Sinopse: A maior corrida do universo é organizada a cada 5 anos. É um dos maiores eventos de todo universo de forma que gente de todos os mundos vem prestigiá-la, correr ou apostar. Grandes governos, corporações e organizações tentam manipulá-la afim do resultado lhe ser conveniente. O protagonista é JP, um dos corredores cujo objetivo é ganhar dinheiro e fama ganhando a corrida com o seu super carro tunado from hell. [MAL] [Wiki]
REDLINE é sobre corridas absurdamente destrutivas e frenéticas. Explosões, velocidades supersônicas, transformações, truques e obstáculos. O pouco plot existente tenta de algum jeito justificar todo o frênesi do qual as corridas consistem. É como se fosse corrida maluca misturada com Gurren Lagann, só que sem comédia ou bons personagens, apenas os gritos e hot-blooded. Os corredores são estilizados de maneira única, o mesmo vale para os carros e para o circuito em que estes vão correr. Dá pra ver, que boa parte de toda produção de REDLINE é devotada a criar os momentos mais frenéticos, explosivos e velozes que forem possíveis.
E, como se espera, REDLINE faz isso bem. As duas corridas que o filme contém (Yellow Line e Red Line) são muito bem feitas e ocupam boa parte do tempo de exibição. Te deixam na ponta da cadeira durante boa parte da sua duração.
A pergunta que resta é: vale a pena fazer todo o resto de maneira medíocre afim de fazer um ponto específico da obra ser excepcional? Sou generoso ao dizer quem Redline tem plot. Os personagens são os mais óbvios possíveis e são rasos. Todo o background e estrutura em volta da Redline, motivações dos personagens, ações das organizações/governo/wtv é simplista. Forçada, muitas vezes.
É como se um músico fizesse uma canção se importando só com a letra e usando um arranjo instrumental genérico. Será que uma letra realmente boa compensa a fraqueza de uma melodia pobre? Acredito que não exista uma resposta geral. Não é uma questão totalmente relativa, mas depende um pouco da obra e do espectador.
O que posso responder é que REDLINE é legal, mas só. Dá pra fazer um bom filme assim. Porém, um filme excepcional, não.
Bakuman
Autor: Obata Takeshi (Arte) & Ohba Tsugumi (Roteiro)
Gêneros: Slice of Life, Romance, Comédia
Duração: 20 Volumes
Sinopse: Bakuman conta a história de dois jovens, Mashiro Moritaka e Takagi Akito, que aspiram se tornar mangakas. Mashiro, que, inicialmente, não desejava seguir tal caminho, é motivado por uma promessa feita de forma quase acidental com Azuki Miho, garota da sua classe pela qual sempre esteve apaixonado, onde os dois prometem realizar seus sonhos e, então, se casarem. [MAL] [BU] [Wiki]
Bakuman é o segundo trabalho da dupla Ohba/Obata publicado na Weekly Shonen Jump e, como sua série anterior, apresenta uma premissa incomum. Porém, diferente de Death Note, Bakuman é mais relaxado em várias aspectos. Possui uma atmosfera bem menos pesada e uma arte não tão realista. O clima é mais bem humorado e positivo.
Quem leu minha anaálise do sistema da Jump na qual eu menciono bastante Bakuman, já pode, através da estrelinhas, captar algumas das minhas opiniões a respeito do título. Mesmo assim, aquilo não pode ser classificado como review, pois de Bakuman, em si, não falei quase nada. Não arrisco uma review completa, porque, sinceramente, não acho que não existe tanta coisa assim a se dizer a respeito. É por isso que ele está nessa coluna.
O início de Bakuman é sólido. É a melhor parte do mangá e, também, um dos melhores começo que já vi em uma série publicada na WSJ. Realmente, não me surpreende que tenha tido um das maiores vendas de primeiro volume já registradas pelo Oricon. Ali, encontra-sa um promessa inovadora (pelo menos aos olhos de leitor comum da revista), que é muito bem apresentada. Os primeiros capítulos de Bakuman apresentam objetividade. É visível que há bastante planejamento ali.
Você começa com Mashiro, um personagem com o qual o leitor pode facilmente se identificar, que conta ao seu leitor os dramas da sua juventude. A mesmice do cotidiano, a perspectiva de um futuro ainda mais chato, um amor infrutífero que parece apenas prejudicar e perturbar o personagem. Na sequência, temos Takagi que tira Mashiro da sua “zona” com sua proposta de se tornarem mangakas. E Mashiro, que só aceita, depois do encontro bizarro na frente da casa da Azuki e da promessa de se casarem.
Existem vários problemas sutis nisso. Bakuman trata esses problemas de maneira rápida e com soluções quase mágicas. Além do drama envolvendo o tio mangaka morto ser manejado de maneira estranha. Bakuman também é machista. De forma que todo esse começo só passa a servir para garotos. No entanto, esse é um tiro certeiro no público alvo desejado pelo título. A abordagem levemente machista, por mais que seja politicamente incorreta, vai de encontro a mentalidade comum de um indíviduo japonês adolescente. Um exemplo claro é o própria Azuki, que é elogiada pela dupla de mangakas por ser submissa, reservada e encaixar-se bem no modelo de esposa ideal japonês, diferente da Iwase que é exibicionista e não tem medo de mostrar que é inteligente, e é tratada com um ar de desaprovação por causa dessa atitude.
A sequência de capítulos seguinte aos iniciais é ainda melhor. Nós temos vários personagens interessantes sendo apresentados num curto espaço de tempo (Eiji, Hattori, Fukuda, Aoki, Hiramaru, Nakai) e, simultaneamente, o mundo dos magakas e as mecânica envolvidas também são reveladas. Tal mundo não é tratado de maneira realista, mas isso não importa. Ele passa a ganhar um ar “battle shounen”, com competição, rivais, aventuras que é muito mais interessante para um título que é publicado na WSJ.
Bakuman, em certo ponto, até apresenta críticas leves a revista. Personagens fazem comentários ácidos, puxam discussão com editores, entre outras coisas. Foi justamente nessa parte que o meu texto crítico à ToC foi inspirado.
Só que, infelizmente, isso, aos poucos, vai decaindo. Bakuman se torna repetitivo. Alguns plots interessantes são disperdiçados ou mal desenvolvidos. Os personagens se descaracterizam (a Miyoshi, por exemplo, vira um fonte de fanservice quando, na verdade, ela nem deveria ser tão bonita). As críticas somem e os personagens passam a tratar o modelo da revista como verdades absolutas. Até mesmo personagens mais agressivos e polêmicos, como o Fukuda, começam a ficar obcecados com a ToC (os rankings da revista). Os desenvolvimento dos personagem fica estagnado e Bakuman se torna um slice of life insosso.
No fim e perto dele, Bakuman tenta coisas diferentes. Tenta adicionar “vilões clássicos”, desenvolver personagens secundários, mas nada tem o mesmo brilho do começo. Não há sinais daquele planejamento bem feito de antes. É tudo meio improvisado e a série passa se comportar de um jeito que eu vivo do qual eu vivo reclamando. Os arcos se sucedem, mas não há desenvolvimento algum. Não se constrói nada e não se visa chegar a lugar algum. Personagens não avançam, mudam ou aprendem nada.
O fim de Bakuman não é ruim, mas deixa várias pontas soltas. Personagens importantes ficam com desenvolvimentos inacabados, da mesma forma que os seus destinos se tornam incertos. O capítulo final é superfocado na alegria dos personagens centrais. É óbvio demais. Sem surpresas. Praticamente, todos os leitores esperavam algo a mais.
Ao menos, os autores reais de Bakuman parecem aprender algo. A saga do mangá reversi mostra uma opinião forte tanto da dupla de mangás fictícia quanto dos verdadeiro. Que uma boa série, não é uma série grande. Uma boa série é uma série bem feita não importando seu tamanho. A qualidade é seriamente prejudicada quando o título é obrigado a se estender e, por causa disso, se afastando da sua proposta inicial.
Espero que essa dupla aprenda bem esse conceito que eles demonstraram e o apliquem bem na sua próxima série. Esses caras são bons. Podem fazer um dos melhores títulos da revista na atualidade. Estou ansioso pelo próximo trabalho deles.