…e uma recomendação natalina.
Waifu, versão japonesa de wife [esposa em inglês, sendo ainda mais óbvio], é um termo designado a personagens fictícias que cativam o espectador a ponto deste fazer o que for necessário por elas, inclusive sustentar um mercado focado especialmente nessas garotas. Essa obsessão consiste em se render às duas dimensões devido às dificuldades de uma relação. Personagens idealizadas, várias delas, são feitas na medida para conquistar esse público. Claro, devemos lembrar que estamos falando de um nicho e muitos utilizam esse termo somente para mostrar o apreço que possuem por determinada personagem.
Amagami SS, produzido pelo Anime International Company [AIC], visa alcançar este público com seu belo e diversificado conjunto de waifus e uma estrutura bem diferente do habitual. A animação, baseada em um simulador de encontros, possui um arco para cada uma de nossas heroínas. Nesse caso, a cada quatro episódios, o anime volta ao estágio inicial e nosso protagonista começa a se relacionar com outra personagem, tentando emular a essência de uma Visual Novel. Um sistema louvável, tanto por não deixar aquele indivíduo que já era fã do jogo sem o arco de sua personagem favorita, como por satisfazer uma ampla esfera de gostos. Não considero um anime deste tipo um harém, já que cada rota parece estar em uma linha do tempo diferente, sem ter relações com as outras.
Ainda sobre essa estrutura, podemos dizer que é uma faca de gumes quando pensamos no roteiro. Por um lado, temos uma sequência sem aquelas firulas presentes romances convencionais, geralmente necessitando de um ou dois cours para que o relacionamento dê um passo. Generalizando, é algo que [novamente] agrada o público masculino, que não suporta esperar tanto. Por outro, temos que o desenvolvimento das relações e dos próprios personagens é prejudicado pela falta de tempo. Você sente falta de momentos para entender melhor a personalidade da Kaoru e da Ayatsuji [todas as garotas são relativamente complexas, mesmo que não aparentem], que alguns momentos estão forçados demais ou que acontecimentos ocorreram muito previamente.
Sendo bem sincero, pouco me importa a classificação por meio de gênero e faixa etária, mas aqui podemos fazer apontamentos interessantes. Ao contrário do que normalmente se espera de romances açucarados, Amagami SS é um shonen. Sem dúvida alguma, o termo foi bem empregado. Somente ao observar o plot do anime, podemos ter certeza disso: Tachibana Junichi é um garoto traumatizado pela sua primeira experiência amorosa, ou melhor, pela falta desta. Na véspera de natal, dois anos atrás, a garota que estava esperando para seu encontro não apareceu. Agora, ainda abalado, pretende dar mais uma chance ao amor e não passar mais um natal só. Também é válido ressaltar o cunho fetichista, que é uma constante na obra, e que temos um protagonista pervertido. Mais um grande acerto do anime foi conseguir não soar vulgar, mesmo também não sendo algo discreto… O tom de um romance inocente e idealizado ainda impera.
Outro fato interessante a ser comentado é a verossimilhança dos personagens. O protagonista é o típico personagem arrasado pelo amor, tarado e meloso (aquele velho truque de fazer o espectador se sentir como o protagonista, para maior imersão na obra, assim deixando ainda mais prazeroso os acontecimentos futuros), enquanto as garotas [mesmo que milimetricamente preparadas para você gostar de pelo menos uma delas, bem idealizadas] também não são nada fora do comum. O próprio character design do anime é bem simples, sem nada como cabelos cor-de-rosa e roupas exageradas, algo muito bem desenvolvido pelo Qwerty no Nahel Argama.
Sobre a trilha sonora, é simples, pontual e não se destaca no anime (a parte que faltava de “I love”, utilizada no fim do anime, conseguiu casar muito bem com o momento). O que quero destacar aqui são as aberturas e os encerramentos. As aberturas, ambas com música da Azusa, conseguem passar perfeitamente o clima do anime e são muito boas. Já os encerramentos tem um charme a parte. Cada um deles é cantado pela dubladora da personagem par romântico do protagonista no arco, com uma nova animação e uma letra sobre sua personalidade e complexidade. Mais um mimo para o fã, porém eu já estou começando a ficar cansado de citá-los.
Também comentarei sobre o famigerado último episódio do anime, e não são opiniões positivas. A falha tentativa de unir todos os arcos em uma mesma linha do tempo [o que já, por si só, uma ideia sem lógica alguma], mesmo com uma nova personagem simpática, não funcionou. As OVAs que seguem matam a saudade e ajudam a deixar alguns acontecimentos mais coerentes, por contemplar cenas que não tiveram tempo de serem exibidas no anime.
O anime deveria ter tido vinte e quatro episódios [o último, como já dito, é fraco] e essas OVAs. No entanto, a fórmula utilizada foi um sucesso [considerando venda de BD/DVDs e produtos relacionados, acho que todos nós sabemos o motivo…], dando lucro o suficiente para convencer os produtores que uma segunda temporada não era má ideia. Para eles, realmente não foi, sabendo que Amagami SS+ mantém uma média de quatro mil BD/DVDs vendidos por volume, mil a menos que sua primeira temporada. Já para nós, afirmo que o resultado foi diferente…
Se já era bem sofrido cada arco só ter quatro episódios, agora cada um deles só possuía dois. Esse, que já era um problema praticamente impossível de contornar, ainda conseguiu ser ofuscado pelo péssimo roteiro da segunda temporada. Não cheguei a jogar a Visual Novel, mas se pudesse apostar, diria que é uma temporada filler. Talvez por já suspeitar que não desse para fazer algo decente com dois episódios, fizeram um planejamento medíocre. Todos os arcos seguiam o mesmo esquema: No primeiro, uma problemática forçada e infantil era exposta, para no segundo ser superada e termos um bom fanservice no fim do arco. A única exceção foi o último episódio, aquele clichê de fontes termais, sincero e agradável em sua proposta.
Aconselharia qualquer um a não assistir a segunda temporada do anime, mas se quiser mesmo assim, vou citar seus únicos pontos positivos [OBS: Parágrafo terá spoilers]: A abertura e o encerramento [dessa vez, único], ambos da Azusa, continuam com um ótimo nível. A Rihoko finalmente sai da friendzone e a excelente declaração do Junichi no décimo segundo episódio. Também pode ser ressaltado uma melhora no traço e nas cores do anime, e só.
Se você leu até aqui e ainda não viu Amagami SS, recomendo se gostar de um bom romance. Como já bem explicado no post, a fórmula é diferente do comum em outros romances escolares por explorar um público diferente. Por fim, não me entendam mal. Você pode assistir e gostar desse anime sendo uma garota, um senhor ou uma vaca (opa, é outro redator, mal a piadinha ruim) completamente normal, o objetivo de explicitar o público alvo era fazer uma análise mercadológica do sucesso do anime, pois é bem conhecido que o público hardcore não mede esforços para comprar o que gosta no Japão.
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Bom, sou muito fã desse anime e jogo. No visual novel a história é muito aprofundada e completa, para quem sabe japonês é um prato cheio, pois você que escolhe a rota e pode finaliza-la com um final romântico, um final meio termo e um final de amigos. Tudo depende de quão longe o personagem vai ao interagir com a protagonista nos 40 dias do jogo. Já finalizei com todas as personagens nos níveis mais alto, estou agora tentando nos finais meio termo. Mas se você verificar bem o primeiro anime que saiu conta a história de como se conheceram e o melhor final. Já a segunda temporada, o amagami ss nele estão os finais meio termo, da onde você obtém pouca interatividade, ou se concentra em outra protagonista no meio do mês digamos assim. Os finais são muito mais emocionante. Concordo com grande parte do que foi dito.
Não conheço o jogo e pouco me importa… mas cara… o que você disse sobre a gente se apaixonar por pelo menos uma personagem é verdade… estou completamente apaixonado pela Haruka… dá até vontade de falar quando ela aparece no anime (que já assisti sei lá quantas vezes): Boku anata-o aimassu!