O patinho feio é uma belezura bipolar de cabelos rosas que se chama Watashi, a “doce” e “perigosa” protagonista daquele que para mim é o anime da temporada: Jinrui wa Suitai Shimashita.
Este é um daqueles animes que enganam o consumidor (para melhor ou pior, fica a seu critério), porque me promete menininhas lindas e fadinhas adoráveis, e o que me dá é uma sequência maldita de episódios que me obrigam a pensar. Nem sempre chega-se a algum lugar, mas ao menos a ginástica mental foi feita. É que nem dar algumas voltas no quarteirão quando acorda, você acabará no mesmo lugar, mas seu corpo terá feito exercício. Jinrui é isso, você provavelmente não chegará a lugar algum, mas ao menos terá pensado. E acredite, ah, acredite, no mundo acéfalo de hoje isso é MUITA coisa.
Há teorias e teorias sobre quem são as fadas, se elas existem ou se Watashi as inventou! Watashi é louca? Watashi morreu? Estamos em Marte? Enfim, aquelas explicações que Alice e o Mágico de Oz já estão suportando há muito tempo. Sinceramente, pouco importa quem sejam as fadas, quem seja Watashi ou sei lá mais o que. Duvido que esses mistérios de Jinrui sejam mais importantes do que sua mensagem crítica. E duvido mais ainda que essa mensagem seja lá muito profunda. Enfim, para mim é puramente ginástica mental. Não estou dizendo que analisar os milhares de pontos da obra seja inútil, até porque isto seria contrário ao próprio escopo deste anime, que é fazer pensar, mas apenas que não acredito que para além de todas as críticas encontraremos uma tese substancial ou nova. Talvez eu esteja enganado, quem sabe. De qualquer forma, sugiro a leitura dos vários e ótimos textos do Panino no extinto blog Subete (sim, aproveitem enquanto não será fechado aquilo), onde praticamente cada detalhe dos episódios é destacado e interpretado.
Não farei qualquer análise sobre a trama. Não sei se existe uma tese ali sobre a decadência da humanidade (o que de certa forma contradiz meu texto anterior sobre a série, mas tudo bem, lá foi feito com base em apenas dois episódios). Talvez isto fique mais explícito na LN (sobretudo nos volumes não animados). O que vi foram inúmeras críticas a vários aspectos da sociedade contemporânea. E não são difíceis de pegar, estão em todos os episódios e com um pouco de atenção você capta. Não são críticas novas nem revolucionárias, são críticas bem feitas apenas.
O mérito está em fazer pensar. Se você não pensar em Jinrui você não entende, não ri, não sente os dramas, não acontece nada. Jinrui é montado para fazer pensar e te obriga na marra. E para isso recorre à roupagem bonitinha de garotinhas e fadinhas. Jinrui é quase um apelo, um desgraçado de joelhos implorando para você: “por favor, use essa porra de cérebro de vez em quando”. E sim, é um xingamento a rumos da indústria, já que tivemos arco sobre isso, inclusive. Não é um alerta, porque este alerta já tem muitos anos. Estamos perigosamente caminhando a um mundo de obras vazias de sentido.
Não sou necessariamente fã de complexidade. Sou fã de profundidade e originalidade. E profundidade pra mim pode ser passada em um roteiro simples e estupendo como o de Nadia: Secret of the Blue Water, ou mesmo em uma obra repleta de fanservices como Medaka Box. Mágico de Oz era fantasticamente profundo (e infantil). Tower of God é um battle shonen (tá, é um manhwa, mas e dái?) com certa profundidade. Profundidade é simplesmente ter algo além da superfície. E este além pode estar em gestos, ações, detalhes, objetos, falas, múltiplas formas. Há espaço infinito ainda para a criação, basta tentar. Profundidade também pode ser exemplificada pelo momento em que você para e observa o que está lendo, ouvindo, assistindo, e tenta enxergar algo além do óbvio. Você encontrará mundos incríveis de significados no querido Charlie Brown, mas desejará quebrar o computador com o Bom-em-nada-Tsuna (ou com o Lambo).
Jinrui te obriga a pensar e atirando pra todos os lados e problemas possíveis. O patinho feio te massacra, te diz: “olha quanta coisa temos pra explorar e nós aqui, obsoletos e caducos nos mesmos assuntos e formatos embalados nos supermercados de sempre”. E o pior é que agora nem sabemos mais se temos pessoas ou frangos depenados comandando os supermercados. Já vi pessoas discutindo Dragon Ball e Bleach. Ó céus, o que há de novo em Bleach que não tenha em Dragon Ball, lançado ontem? Farto de genéricos, talvez por isto eu tenha gostado de Jinrui wa Suitai Shimashita.
Esse texto não muda nada. Claro que não. Ninguém tá nem aí pra nada. Mas enfim, eu realmente tenho esperanças que algumas pessoas com mente e coração abertos a coisas melhores possam ler e talvez perceber o buraco onde entramos e do qual insistimos em não sair.
Sim, este é um autoflagelo. Bom saber que a gente evolui, né?
Sobre o buraco? Bom, deixa pra outra hora. Acho que ficará mais interessante abordar o buraco em textos enaltecendo alguns animes e mangás atuais merecedores (tanto do mainstream como do dito underground, embora nem sempre a distinção seja clara) e clássicos do passado. Jinrui seria um, mas acabou ficando com aquela ingrata função de delatar os problemáticos, embora eu acredite que tenham ficado relativamente claras minhas considerações positivas a este anime. Nos próximos dias publicarei um texto comentando em paralelo duas obras do Mestre Tezuka: Metropolis e Ribbon no Kishi (A Princesa e o Cavaleiro), e acho que ali ficará mais claro o que pretendo dizer.
Vou ser sincero, eu não gostei de escrever dessa forma. Sim, detesto ter que detonar ou criticar negativamente algo. Sempre gostei muito mais de enaltecer os grandes que meter o pau nos pequenos. Prefiro rasgar elogios a Uchuu Kyoudai que gastar tempo xingando porcarias. Mas enfim, como precisava escrever sobre Jinrui, e quando penso em Jinrui é isso tudo que me vem à mente, lamento, saem essas pedradas mesmo. Ótimo anime, academia pra neurônios.
E aí a ending, que consegue transmitir o feeling de Jinrui.
Até!
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